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Foto: Luiz Claudio da Silva / Museu das Remoções

Calma, seu email não foi removido. Mas fica aí que a gente tem um assunto muito sério pra falar com você, e tem a ver com remoção mas remoção de famílias…

A prática de desalojar famílias mais pobres é um dos mais perversos traços da política urbana carioca desde o período colonial. 

Nesta NEWSLETTER, vamos traçar uma trajetória das remoções na cidade desde o século XIX até as mais recentes, nos anos 2010, e falar um pouco sobre os desdobramentos dessa política tão característica do Rio, que acabou estimulando o surgimento de várias favelas.
 
Foto: Luiz Claudio da Silva / Museu das Remoções

Com a chegada da família real ao Brasil, em 1808, deu-se um dos mais emblemáticos processos de remoção da cidade: por conta da falta de moradias disponíveis para a realeza que chegava com D. João VI, 10 mil casas foram pintadas com as letras “PR”, de “Príncipe Regente” para serem desocupadas. Os moradores eram obrigados a deixar seus lares e, rapidamente, a sigla ficou conhecida como “Ponha-se na Rua”. Nas remoções dos anos 2010, as casas eram marcadas com as letras “SMH”, de Secretaria Municipal de Habitação e o carioca também acabou apelidando de “Sai do Morro Hoje”.Outra remoção muito conhecida foi a do cortiço Cabeça de Porco, essa você já deve ter ouvido falar. Em 26 de janeiro de 1893, os moradores foram obrigados a bater em retirada diante de uma multidão de curiosos e do próprio prefeito, Barata Ribeiro, que comandou a demolição do cortiço. A ampla cobertura da imprensa deu ares de espetáculo a uma ação que deixou na rua centenas de famílias negras e pobres. Algumas dessas famílias foram ocupar os casebres do morro que ficava atrás do cortiço: o Morro da Favela (atual Providência), que é considerada a primeira favela do Brasil. No início do século XX, as reformas empreendidas pelo prefeito Pereira Passos (1902-1906) causaram um deslocamento massivo de pessoas, muitas famílias humildes foram expulsas de suas casa para dar lugar a largas avenidas e grandes edifícios, afinal o Rio precisava “se modernizar”, virar a Paris dos Trópicos!  Foi nessa onda que aconteceu o desmonte do Morro do Castelo e  dezenas de famílias foram retiradas de suas casas como, por exemplo, os irmãos Florinda e Francisco, sobre quem falamos na 2ª temporada do podcast Rio Memórias. Clique no link ao lado e ouça o episódio na íntegra.Nos anos 1960, uma nova onda de ações violentas de remoção foi implementada pelas gestões dos governadores Carlos Lacerda (1960-65) e Negrão de Lima (1965-71). Estima-se que entre 1963 a 1975, foram removidas mais de 175 mil pessoas somente no Rio de Janeiro. São desse período as remoções das favelas da Praia do Pinto, na Lagoa, e do Esqueleto, ao lado da UERJ/Maracanã.

 

A Favela da Praia do Pinto, formada nos anos 1930 nas imediações da Lagoa Rodrigo de Freitas, surgiu num contexto de aumento da oferta de empregos na construção civil e na presação de serviços nos bairros vizinhos.Após décadas de luta contra diversas tentativas de remoção, um incêndio criminoso, até hoje nunca esclarecido, foi a justificativa final para que os moradores fossem realocados na distante zona oeste, em um período de extrema gentrificação da zona sul. “Numa madrugada de maio de 1969, cerca de mil barracos foram destruídos pelas chamas, deixando 9 mil pessoas desabrigadas. O incêndio acabou sendo um pretexto para a retirada dos moradores, que foram levados para conjuntos distantes como Cidade Alta e Cidade de Deus, e alguns integraram mais tarde a Cruzada São Sebastião, vizinha à favela.” Também surgida nos anos 1930, a Favela do Esqueleto, batizada assim por ter começado no esqueleto da obra abandonada do que seria o Hospital das Clínicas da então Universidade do Brasil (atual UFRJ). Nos anos 1940, a construção do estádio do Maracanã fez sua população crescer vertiginosamente.Nos anos 1960, o governo Carlos Lacerda removeu, à força, seus moradores para a Vila Kennedy, em Bangu. Para saber mais, clique na imagem e leia a memória na íntegra.É claro que essas políticas de remoção vieram “maquiadas” de melhorias para a população expulsa de seus locais de moradia, tais como a construção de Conjuntos Habitacionais. Porém, a realocação de alguns moradores para os Conjuntos Habitacionais, espalhados pela cidade por todo o século XX, não deu conta de suprir os problemas de moradia. Muitos desses conjuntos foram estabelecidos a quilômetros de distância do centro e da zona sul (como no caso da Cidade de Deus e Cidade Alta) e, muitas vezes, não ofereciam condições melhores de habitação.Já o programa Favela-Bairro, criado nos anos 1990, resultou em melhorias efetivas para algumas comunidades cariocas. Ele tinha como finalidade  melhorar as condições de vida nas favelas a partir da promoção de construções seguras, acessos mais fáceis, consolidação de infraestrutura e criação de aparelhos comunitários. Na década de 2010, voltaram as políticas de remoção durante a primeira gestão do prefeito Eduardo Paes. Um exemplo marcante é a remoção da Vila Autódromo, favela localizada ao lado do Parque Olímpico, no contexto dos grandes eventos esportivos que o Rio recebeu em 2014 (Copa do Mundo) e 2016 (Jogos Olímpicos).“Uma das principais controvérsias no caso da Vila Autódromo é o fato de que o projeto olímpico não incluía a demolição das casas. Segundo moradores e ativistas, a retirada das famílias ocorreu, na verdade, devido à especulação imobiliária e à pressão das construtoras, pois a sua permanência não influenciaria em nada no traçado das obras.” Você pode ler mais clicando na imagem abaixo.São muitas as histórias de remoções. Se você quiser se aprofundar no tema, seguem nossas dicas culturais:


No documentário “O desmonte do monte”, a diretora Sinai Sganzerla conta a história do Morro do Castelo, seu desmonte e arrasamento. O filme utiliza iconografias, pinturas e depoimentos de ex-moradores do morro, assim como dos engenheiros que trabalharam no desmonte, para contar uma das muitas histórias de remoção que o Rio de Janeiro já viveu.No contexto das remoções da Vila Autódromo, os moradores se uniram à comunidade acadêmica, à Defensoria Pública e à imprensa e encamparam uma luta pela permanência da Vila Autódromo. Essa articulação se desdobrou na criação do Museu das Remoções, que você pode conhecer acessando o site:https://museudasremocoes.com


Foto: Luiza Freire Nasciutti


Lançado em 2016 com direção de Felipe Pena, o filme “Se essa vila não fosse minha” apresenta a vida dos moradores da Vila Autódromo, que compartilham histórias de uma comunidade dividida pela remoção, determinada pela construção do parque olímpico.



Dirigido por Marco Antonio de Campos Pereira e exibido no festival É tudo verdade, de 2023, Favela do Papa aborda o movimento de resistência dos moradores da Favela do Vidigal contra a ordem de remoção, um capítulo importante da história do Rio de Janeiro na década de 70.

Através do resgate de imagens de época e entrevistas, o filme mostra como se deu o apoio de entidades e personalidades na defesa da permanência dos moradores em seu território. O engajamento da Igreja católica, através da Pastoral das Favelas, de juristas e do artista Sérgio Ricardo, fez a diferença e a vitória foi coroada com a visita do Papa João Paulo II à favela, em 1980.Curtiu? Então siga a gente nas redes e indique nossa Newsletter para quem você acha que pode curtir. Se você chegou até aqui é porque gostou do nosso conteúdo, então mande essa newsletter para um amigo!

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