Temporárias
45 MANOEL COELHO – ARQUITETURADESIGN
https://www.museuoscarniemeyer.org.br/exposicoes/exposicoes/45_manoel_coelho
Análise Qualitativa
Publicado Segunda, 15 Outubro 2012 10:43
Disciplina: Museus e Centros Culturais
Orientação: Profª.: Cêça Guimaraens
Data: 1º Semestre 2002
Alunos:
- Andréa Alvarenga D’Almeida
- Cristiane Vieira Cabreira
- Maria Fernanda Pop de Sousa
- Mário Luis Carneiro P. de Magalhães
- Rafael Pessanha de Almeida
Cartaz

Título: Análise Qualitativa de uma Exposição
INTRODUÇÃO
Apresentando ao público a trajetória de um dos grandes mestres da arquitetura brasileira e internacional, a exposição Lucio Costa apresentada no Paço Imperial, Rio de Janeiro, se mostrou carregada de emoção e exaltação ao trabalho e à figura de um homem que trouxe para o Brasil a reinterpretação de um grande momento arquitetônico. Tudo isto em comemoração aos 100 anos que completaria no ano 2002.
Nascido em 1902 em Paris, França, e falecido no Rio de Janeiro em 1998, Lucio Costa marcou o país com a multiplicidade de sua obra e uma intensa atividade intelectual.
Tendo como curadora a filha do mestre, Maria Elisa Costa, a exposição contou com mais de 200 itens expostos em 12 módulos, incluindo uma sala dedicada a Brasília. O mais interessante é que o visitante teve contato com uma gama variada de documentos originais, sejam eles desenhos, fotos ou cartas. Este diferencial fez despertar o desejo de desenhar, de produzir e demonstrou a possibilidade de produção de verdadeiras obras de arte com materiais simples.
DADOS GERAIS
A exposição Lucio Costa teve como objetivo tornar públicas, através de desenhos e documentos, a vida e a obra de um arquiteto que transformou a concepção espacial e arquitetônica no panorama brasileiro do século XX. Os objetos expostos refletiram a postura e o pensamento de Lucio Costa, sendo possível perceber os vários momentos de seu intelecto e o resultado desses momentos no papel.
Sendo assim é possível dizer que a exposição de Lucio Costa teve um fundo intelectual reforçado, não anulando a possibilidade de se perceber um discreto tom de filosofia e didática. Em comparação com outras exposições, como a do grande psicanalista Freud no Rio de Janeiro, de característica filosófica predominante, a de Lucio Costa não pretendeu mostrar um encaminhamento de pensamentos e conclusões de uma descoberta, mas sim os registros de uma vivência, sejam elas familiares ou profissionais.
Partindo desse princípio, se mostrou necessário que o público visitante conhecesse ao menos um pouco da obra de Lucio Costa, conhecesse os seus momentos de forma a tornar possível um maior aproveitamento. E então a exposição denotou uma primeira face: superar a expectativa do visitante, de quem se espera um prévio conhecimento sobre a vida e a obra do arquiteto, através dos croquis, desenhos originais, cartas e documentos como as de Le Corbusier a respeito do projeto do Ministério da Educação e Cultura e do Rio de Janeiro. Uma outra face se mostrou para o público leigo (no sentido de conhecimento a respeito da figura exposta), que é a de uma gama variada de desenhos, de tipos de desenhos, de cores e de momentos, mas que no fundo está distante de alcançar a profundidade do exposto.
No que diz respeito à natureza da exposição, pode-se defini-la com sendo temporária. Segundo a curadora da exposição, Maria Elisa Costa (filha de Lucio Costa), a exposição pretende ir para outros locais, sendo que o próximo destino é Brasília, porém o material exposto não será o mesmo devido às condições que cada espaço oferece. Nem mesmo o tipo de veículo para transporte da exposição foi explicitado.
O material exposto consistiu em um grande número de desenhos originais, painéis constando do Plano Piloto de Brasília, do Plano Piloto da Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, cartas, documentos, bilhetes (desde bilhetes a clientes até bilhetes para sua esposa, avisando que não poderia jantar devido ao trabalho), fotos e até mobília. Em sua grande maioria são objetos bidimensionais que se distribuíram ao longo de todas as salas, de tamanhos variando de A4 (21,0×29,7cm) até pranchas A0 (84,1×1,188cm). Esses objetos têm como material compositivo básico papel (papel manteiga, sulfite, vegetal, etc.), lápis de cor, grafite, aquarela, tinta nanquim, ou seja, materiais simples, do dia-a-dia. Um último módulo diferiu dos demais por apresentar objetos tridimensionais, a mobília que, vazia, fazia alusão à foto que abria a exposição.
ASPECTOS FÍSICOS E CONSTRUTIVOS
A exposição e o edifício
A exposição aconteceu no Paço Imperial, localizado na Praça XV de Novembro, no centro histórico da cidade do Rio de Janeiro. O edifício em estilo colonial tem idade aproximada de dois séculos e meio e já foi palco de acontecimentos importantes do panorama político-social brasileiro. Funcionando como Centro Cultural desde a última reforma, em 1985, ainda possui marcas dos diferentes usos aos quais foi adaptado, o que o torna um espaço singular de divulgação e propagação cultural. Sua localização estratégica e sua característica de galeria de arte contemporânea e complexo cultural permitem que as exposições de importância no cenário nacional aconteçam nessa mesma arquitetura. Desta maneira, a exposição destinada ao mestre da arquitetura e urbanismo brasileiros, Lúcio Costa, não poderia acontecer em local distinto.
Para abrigar o acervo da fundação Lúcio Costa foi destinado parte do primeiro pavimento do edifício, mais especificamente as salas 9 (sala Gomes Freire), 10 (sala Treze de Maio), 11 (sala do Trono) e 12 (sala do Dossel), contabilizando uma área de exposição de aproximadamente 650m2, o que corresponde a 29% da área total de salas de exposição, como se pode observar nos esquemas ilustrativos.
Em termos de percurso, cabe analisar duas vertentes distintas: a arquitetônica e a expositiva. No tocante à arquitetura, conforma-se o sistema clássico de galeria linear em torno de um pátio central. A locação das escadas de acesso ao 2o pavimento majoritariamente ao longo da ala da Rua da Assembléia, associada aos amplos vãos de acesso ao vestíbulo da sala 9 acabam por lhe imprimir um sentido principal de trajeto anti-horário. A exposição trabalhou sobre essa preferência de percurso como um dado de projeto de forma assertiva, ao estabelecer um ponto focal com momentum emotivo de impacto e painel histórico-panorâmico neste mesmo vestíbulo. Em linhas gerais, os módulos da exposição seguiram o percurso determinado pela arquitetura, com uma tentativa de romper a linearidade do percurso através de nichos expositivos que obrigariam os visitantes a se deslocarem transversalmente ao sentido principal.
Foram usados painéis verticais pênseis indicativos dos módulos em material plástico translúcido ao longo da exposição.
Os suportes que definiam espacialmente a exposição se dividiram em pranchetas e caixas vitrines de madeira. Sua disposição seguiu a lógica particular dos painéis verticais.
Tetos e pisos foram os oferecidos pela arquitetura, não usados de forma expressiva pela exposição. Na primeira sala, o material do teto era diferenciado (teto em PVC) em tonalidade palha, na sala de Brasília, utilizou-se o recurso do teto rebaixado em gesso tratado com pintura branca e nos últimos módulos, manteve-se o teto original, em madeira. O piso foi mantido em tábua corrida.
Nos planos verticais, as paredes, foram empregados painéis em compensado de madeira, que protegeram a arquitetura do edifício e ao mesmo tempo permitiram a sucessão de tratamentos diferenciados de acordo com o discurso expositivo. Na primeira sala, utilizaram-se esses planos para a obstrução da entrada de luz natural, criando um ambiente encerrado. Os painéis que revestiram as paredes existentes receberam tratamento cromático, alternando as tonalidades branca, amarela e azul.
A grande exceção foi o espaço destinado exclusivamente para o projeto de Brasília, onde o uso das cores vermelha e preta criou uma atmosfera mais contrastante. Ainda sobre esse mesmo elemento expositivo foram implementados elementos vinílicos adesivos, criando imagens e textos. Também fixados aos painéis encontram-se quadros/desenhos emoldurados em vidro comum, como seu auto-retrato, desenhos da época de estudante e projetos de sua carreira já consolidada.
O sistema de iluminação, como já foi estudado no texto do arquiteto José Maria Montaner, possui tanto a missão de realçar os objetos expostos como a de delimitar e qualificar o espaço o arquitetônico. Na exposição em foco, este se distribuiu linearmente preso por trilhos pelas salas expositivas de forma direcionada e fazendo uso de lâmpadas tipo PAR, com exceção do espaço de Brasília.
Pôde-se perceber uma organização da exposição tanto em termos cronológico quanto temático. Além dos 12 módulos citados anteriormente, marcados pelos painéis verticais, pode-se pensar em 5 grandes temas:
- Tema 1 – vestíbulo – apresentação da exposição e síntese cronológica da vida e obra de Lucio Costa
- Tema 2 – Transição entre o neocolonial e o moderno – dos projetos neocoloniais em sociedade com Fernando Valentim e Warchavchik, passando pelas “casas sem dono”, ao Edifício do MEC, símbolo do modernismo.
- Tema 3 – Brasília
- Tema 4 – Principais obras e projetos de arquitetura e urbanismo – residências, Parque Guinle, Planos Pilotos de São Luís, Baixada de Jacarepaguá, Pavilhão do Brasil na XIII Trienal de Milão…
- Tema 5 – Lembranças caseiras – fotos da infância, família, amigos, primeiros desenhos, documentos, viagens, coleção de brinquedos, casamento…
Dentro destes grandes temas, existia uma outra organização em diversos módulos em ordem cronológica.
Inserido no tema 2, encontramos os módulos 1 a 6, cujos títulos eram, respectivamente:
- Primeiros tempos/sucesso (1917-1929) – englobando o período de sua formação profissional, até os projetos de Diamantina
- Ruptura/abrindo caminhos (1930-1931) – onde destacou-se a reforma do ensino na Escola Nacional de Belas Artes.
- Tempos difíceis (1932-1935) – projeto das “casas sem dono”
- Consolidação/”Guerra Santa” – Ministério de Educação e Saúde, o projeto da Cidade Universitária e o Pavilhão do Brasil em Nova York
- Tradição e Modernidade/SPHAN (1937-1972) – estudo da arquitetura luso-brasileira.
- Arte, manifestação normal de vida – ensaio “Considerações sobre Arte Contemporânea.
O tema 3 coincidiu com o módulo 7 da exposição, entitulado “Resultantes Convergentes – Brasília, cidade que inventei”.
O tema 4 subdividia-se nos módulos 8 a 11:
- Arquitetura, simplesmente (anos 40-90) – originais do esboço do Parque Hotel em Nova Friburgo e residências.
- Urbanismo – projetos diversos de intervenção urbanística no Brasil e no mundo.
- Viagens/encontros – ocasião em que participou do “Grupo dos 5” com Gropius, Rogers, Markelius e Le Corbusier.
- Rio de Janeiro – Rampas de acesso do Outeiro da Glória, monumento a Estácio de Sá, esboços da sede do Jockey Club, estudos da Capela de Nossa Senhora de Copacabana.
O Módulo 5 coincidiu com o módulo 12, Lembranças Caseiras.
CONCLUSÃO
REFLEXÕES SOBRE O DISCURSO EXPOSITIVO
Constatamos que o discurso expositivo adotado pela curadora e arquiteta Maria Elisa Costa tentou formalizar sua ordenação lógica-conceitual espacialmente, ou seja, baseou-se em uma proposta temática-cronológica que deveria ordenar o macro espaço em micro espaços.
O acervo da exposição foi de excelente qualidade, despertando admiração ainda maior pelo arquiteto em questão e estimulando leigos, intelectuais e profissionais da área a se aprofundarem nas questões do fazer arquitetônico. Revelou não apenas as diferentes fases da profissão do arquiteto, não mascarando as dificuldades presentes, mas também o caráter humanista de Lucio Costa.