Permanentes

Análise Comparativa

UFRJ – FAU – DPA

Disciplina: Museus e Centros Culturais
Orientação: Profª Cêça Guimaraens
Data: 1º Semestre 2003
Aluna: Flávia Lopes Lellis da Silva

Título: Análise Comparativa das Exposições Permanentes: “A VENTURA REPUBLICANA” (Museu da República) & “PROTOS” E “CARRUAGENS” (Museu Histórico Nacional)

Baseado no texto “Museu contemporâneo: lugar e discurso” de Josep Maria Montaner

Apresentação

Como esclarecimento dos procedimentos adotados para execução do trabalho, pode-se ressaltar, primeiramente, a imensa relevância histórico-arquitetônico-cultural dos prédios que abrigam, hoje, o Museu da República e o Museu Histórico Nacional. Estes expõem em suas dependências, as mostras permanentes “A VENTURA REPUBLICANA”‘ – Museu da República – e “PROTOS” e “CARRUAGENS” – Museu Histórico Nacional – os agentes desta análise comparativa.

Com a comprovação e reconhecimento desta relevância através de fotos, matérias de revista e visitas ao local, concluiu-se que a busca de antecedentes históricos e dados sobre o prédio seria de suma importância para a familiarização – tanto do autor deste trabalho quanto do leitor – com o ambiente dos museus em questão.

É neste momento que Montaner se encaixa, quando este citou em seu texto ‘Museu Contemporâneo: lugar e discurso’ o seguinte: “Este artigo vai tratar daqueles temas de projeto que abrangem a questão da confrontação entre o lugar definido pela arquitetura (…) e as obras que se exibem de acordo com um discurso expositivo, partindo da premissa de que existem relações de maior ou menor adequação entre cada tipologia arquitetônica adotada e cada discurso museológico concreto.” Com esta citação, chegou-se à outra questão – a relação entre o museu e as obras apresentadas nas exposições – que se demonstra como um grande empecilho em alguns casos, e por isso este trabalho referiu-se também aos percursos das salas e à localização das mesmas em plantas esquemáticas.

Por fim, como objetivo deste trabalho, foram especificadas diretrizes para a análise comparativa, com base no texto de Montaner citado anteriormente e realizada a análise, que resultou na conclusão do trabalho.

Museu da República

A Casa da Presidência:

“Desde a Proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, a sede do Poder Executivo esteve instalada no Palácio Itamarati, na cidade do Rio de Janeiro. Em 24 de fevereiro de 1897, depois de sofrer, sobretudo em seu parque, uma ampla reforma – coordenada pelo arquiteto Aarão Reis e pelo paisagista Paul Villon -, o Palácio do Catete passou a sediar a Presidência da República.

Entre 1897 e 1960, quando a nova Capital Federal foi inaugurada, o Palácio foi palco de alguns dos principais acontecimentos da República e residência de vários presidentes. O Catete abrigou as oligarquias da chamada República Velha; o totalitarismo do Estado Novo; a redemocratização do pós-guerra e o desenvolvimentismo dos anos 50. O Palácio do Catete assistiu à Era Vargas em todos os seus capítulos, desde 1930 até o suicídio do presidente, em seu quarto particular, a 24 de agosto de 1954.

O Catete foi sinônimo de poder, objeto da cobiça e do interesse de tantos quantos sonhavam com o cargo máximo da República.

Em 21 de abril de 1960 Brasília foi inaugurada e o Palácio do Planalto passou a ser a nova casa da presidência. Em 15 de novembro do mesmo ano, o Palácio do Catete foi transformado no Museu da República, espaço destinado à preservação, pesquisa e dinamização dos testemunhos da trajetória republicana no Brasil.”

Exposições Permanentes:

(informações colhidas de folheto distribuído em março/abril de 2003 e maquetes eletrônicas retiradas do trabalho de mestrado com link na página da FAU/UFRJ )

Nesta exposição pode-se visitar grandes salões e aposentos devidamente mobiliados com móveis originais de épocas em que o Palácio foi Sede do Governo Federal.

No térreo, o Salão Ministerial mantém o clima solene das reuniões e das decisões capitais sobre o destino da nação; duas salas abrigam exposições temporárias.

No 2º piso predomina o luxo dos salões Nobre, Pompeano, Mourisco e de Banquete.

Vale ressaltar a belíssima clarabóia do hall da escadaria principal, que liga o térreo ao 2º piso.

No 3º piso localiza-se a área de aposentos, ou seja, a área íntima do palácio (área esta de que se desenvolverá a análise, pois é nela que se encontra a exposição permanente “A Ventura Republicana”‘, da qual trataremos em seguida) e onde se localiza inclusive o quarto do presidente Getúlio Vargas.

  • Sala da Cronologia:
    “Exposição que apresenta os fatos mais importantes dos últimos 110 anos da história brasileira, com incursões pela história mundial.”
  • Eletrize-se!:
    “Vídeo-instalação de Marcello Dantas no prédio do antigo gerador de eletricidade do Palácio”.
  • Eu, Getúlio:
    “Acervo pessoal do presidente Getúlio Vargas – documentos, livros, objetos pessoais e de campanha – doado por sua neta Celina Vargas do Amaral Peixoto. Traça um perfil do estadista, relacionando-o com os fatos marcantes da história recente.”
  • Jardins do Palácio:
    Esta opção não está citada no folheto, mas cabe lembrar que os jardins do palácio abrigam obras, na maioria esculturais, como bustos e chafarizes antigos ou inspirações mais contemporâneas, muitas tombadas pela Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro (informação obtida através de consultoria ao DGPC, órgão do município).
  • A Ventura Republicana:
    Exposição permanente alvo deste trabalho que consiste na “história da República contada a partir de movimentos históricos, manifestações culturais e cultos religiosos. A mostra é composta de mais de mil peças do acervo do museu, além de fotos, vídeos e uma instalação. Curadoria de Gisela Magalhães e Joel Rufino dos Santos.”

Museu Histórico Nacional

Exposições Permanentes:

(informações colhidas na homepage do museu)

“Criado em agosto de 1922, por decreto do Presidente Epitácio Pessoa, o Museu Histórico Nacional inicia suas atividades em outubro do mesmo ano, integrando a Exposição do Centenário, com duas salas na Casa do Trem.

Ao longo de sua trajetória, o Museu Histórico formou o maior acervo sob a guarda do Ministério da Cultura e transformou-se em importante centro gerador de conhecimento, passando a ocupar, gradativamente, todo o conjunto arquitetônico da Ponta do Calabouço, nascido do Forte de Santiago.

Abrigando o primeiro curso de museologia do país e servindo como ponto de partida para a constituição de importantes museus brasileiros, o Museu Histórico passa a ser conhecido internacionalmente na década de 40.”

Plantas do Museu Histórico Nacional

01 – Pátio da Minerva14 – Galeria Regina Real (Temporária)
02 – Auditório15 – Colonização e Dependência
03 – Automóvel Protos16 – Farmácia Teixeira Novaes
04 – Hall do Arcazes – Galeria BankBoston17 – Galeria Canadá (Temporária)
05 – Casa do Trem18 – Memória do Estado Imperial
06 – Expansão, Ordem e Defesa19 – Pátio de Santiago
07 – Carruagens20 – Biblioteca
08 – Pátio dos Canhões21 – Arquivo Histórico
09 – Recepção22 – Pátio Interno
10 – Arte Sacra23 – Galeria Jenny Dreyfus de Artes Decorativas
11 – Sala da Descoberta24 – Centro de Referência Luso-Brasileiro
12 – Café dos Vice-Reis25 – Galeria Grandes Exposições (Temporária)
13 – Galeria Sophia Jobim (Temporária)

Análise Comparativa das Exposições

Museu da República

Apresentação da Exposição “A Ventura Republicana”

Módulo 1:

Salas 1 e 2: Os Presidentes
Salas 3 e 4: O Poder dos Mortos

  • Sala 1:
    Foram utilizados recursos como o de projeção de imagens, o uso de cores como o azul associadas com a idéia do personagem ‘Superman’ e do verde-escuro para os painéis e do preto para as vitrines e suportes para estátuas. As cores também aparecem na iluminação que se faz de maneira focalizada e com refletores – as mais utilizadas foram as cores amarela, azul e vermelha.
    A escolha dos materiais madeira e acrílico se referem a uma boa duração, já que se trata de uma exposição permanente.
  • Sala 2:
    Nesta sala, pode-se observar o uso de parede como fundo através de uma colagem de fotos dos presidentes em tons de branco e cinza, que com os quadros à esta sobreposta cria uma superfície com movimento e profundidade. Pode-se também observar o uso de uma grande vitrine em torre, onde se expõe os objetos na vertical e do uso de sinalização referente aos objetos expostos.
  • Sala 3:
    Esta exposição mostra a saga de Canudos e as armas usualmente utilizadas como armas de fogo e armas brancas, dentre objetos pessoais dos que participaram da batalha.
    Nesta sala, a curadoria, assim como nas demais salas, manteve o padrão de vitrine, variando somente a altura delas, de acordo com a necessidade. Outro aspecto observado foi o uso de janelas no painel em que se pode ver o objeto em exposição além do mesmo.
  • Sala 4:
    Esta sala presta uma homenagem ao culto religioso em toda a sua amplitude. Pode-se verificar na segunda foto a imagem de Iemanjá, a Rainha das Águas.
    A curva feita com o painel cria uma ambiência, para melhor visualização da estátua. As vitrines dispostas juntas e na mesma altura dão a sensação de uma única mesa baixa, como um altar, reforçando o tom simbólico da mostra.

Módulo 2:

Sala 1: O Poder dos Vivos
Sala 2: Cy, A Mãe do Mato
Sala 3: A Rua
Sala 4: As Armas
Sala 5: Ordem e Progresso
Sala 6: Getúlio – O Pai dos Pobres / Anos JK

  • Sala 1:
    A exposição se refere ‘ao poder dos vivos’, ou seja, aos políticos que detinham e ainda detém grande influência sobre as decisões de nosso país, refletindo-se na 1ª Constituição da República de 1891, em contraste com o ‘poder dos mortos’ visto no módulo 1, dos mortos de Canudos.
    A técnica expositiva muda um pouco, pois os objetos como louças e metais são agora expostos em vitrines menos acessíveis ao seu redor, compondo-se como uma idéia de cristaleira onde se guardava esse tipo de objeto no século XIX.
    Como pode-se ver na segunda foto há uma reverência maior ao quadro que retrata a aprovação da Constituição e à Bandeira Nacional. As cores utilizadas são o preto e o azul marinho. O tratamento da iluminação é feito por trilhos com somente iluminação artificial e o ambiente é climatizado – esse tratamento se repete para todas as salas de exposição permanente analisadas.
  • Sala 2:
    A concepção desta sala, com forma arredondada, traz a sensação de se estar atravessando um túnel do tempo em que se reencontra o Brasil antes da chegada dos civilizadores, na sua forma mais virgem, fazendo reverência aos habitantes indígenas, à fauna e à flora. O som da floresta e as folhas secas ao chão dão mais veracidade à essa experiência.
  • Sala 3:
    Esta sala, dividida em parte 1 e 2, remete, na parte 1, ao carnaval, futebol, folclore, teatro e candomblé, ou seja, a todas as demonstrações populares. A técnica expositiva é variada, com trajes, fotos em painéis, instrumentos musicais presos aos trilhos de teto e imagens religiosas. Na parte 2, são mostrados alguns móveis pertencentes a Presidentes, como a cômoda de Nilo Peçanha, devidamente indicada pela etiqueta e sobre um platô, que protege e realça a peça.
  • Sala 4:
    Essa exposição mostra a a época da tortura e a saga de Lampião. Os objetos expostos são armas e objetos de tortura, posicionados com fundos roxo, e vermelho, representando a morte e o sangue. Em meio aos objetos surge uma homenagem – uma maquete do Monumento Tortura de Oscar Niemeyer.
  • Sala 5:
    Essa sala mostra o progresso do Brasil com a descoberta de petróleo, com o cultivo do café e com a construção de Brasília. Foram utilizados recursos de maquete mecanizada, de vídeo com cenas de época, painéis explicativos e fotos, com detalhe para o pôster de JK. A forma ondulada da vitrine remete a ondas ou ao litoral. A cor predominante é o preto.
  • Sala 6:
    Com esta sala termina o módulo 2, sendo esta composta por uma ante-sala com a mesa de trabalho de Getúlio e por uma sala que fecha o circuito com a glória dos edifícios de Brasília, dos eletrodomésticos e das personalidades da época.

Museu Histórico Nacional

Apresentação das Exposições “Protos” & “Carruagens”

Sala Exposição Protos:

“Em exposição permanente (a partir do Pátio Minerva, ao lado do Auditório), desde novembro de 1996, o automóvel PROTOS, de 1908, pertenceu ao Barão do Rio Branco.

De origem alemã, a marca PROTOS foi famosa no início deste século, graças à sua participação na lendária corrida New York – Paris.

Utilizado no Rio de Janeiro nas comemorações do Centenário da Abertura dos Portos às Nações Amigas, o PROTOS foi incorporado ao acervo do Museu Histórico Nacional em 1925.

Após 10 anos de trabalho, o PROTOS, um dos dois únicos exemplares existentes no mundo, é devolvido ao público totalmente restaurado.”

A exposição PROTOS consiste na apresentação do objeto principal ao centro – o carro – que juntamente com os painéis ao redor deste, trazem uma linearidade para quem observa e uma clareza verificada pelas cores pastéis ou somente branca dos painéis. O suporte para o carro é em granito escuro, para evidenciar o veículo e protegê-lo do contato direto com o material original – pedra rústica – da antiga construção.

A exposição possui luz natural em abundância, através dos pátios internos da construção, mas também faz algum uso da luz artificial. O ambiente não é climatizado, sendo aerado através de ventiladores de teto.

Sala Exposição Carruagens:

“Exposição dedicada aos meios de transporte terrestres e de tração humana e animal, reunindo cadeirinhas de arruar, traquitanas, coches, berlindas e carruagens. A evolução das técnicas e das noções de conforto ao longo do tempo podem ser notadas.

Entre as peças expostas destaca-se a caleça de uso diário do Imperador D. Pedro II e a berlinda de aparato usada pela Imperatriz Teresa Cristina.”

A exposição CARRUAGENS consiste na apresentação dos objetos em questão de forma seqüencial e em direção diagonal, provendo melhor visualização do conjunto das peças ou de cada peça individualmente. A técnica expositiva utilizada foi a de realçar a área do piso em que se encontram as carruagens, em contraste com o corredor de circulação dos visitantes, na cor preta e com a parede ao fundo.

Outra forma de exposição das peças pode ser vista na foto acima, representada pelos painéis em amarelo, acoplados à parede, que servem como suporte para peças mais leves. A iluminação, assim como na exposição PROTOS, é feita por luz natural e artificial e ventilada por ventiladores de teto.

Diretrizes de Análise Comparativa

Tanto o Museu da República quanto o Museu Histórico Nacional, por serem museus históricos, possuem a mesma proposta. A natureza do público-alvo é de longa duração, sendo exposições chamadas permanentes. O tipo das exposições, em ambos os casos, pode ser considerado bidimensional e tridimensional, visto que possuem painéis, quadros, esculturas e outros objetos.

No MHN, há apenas um objeto (carro) na exposição Protos, diferindo da exposição Carruagens, que possui grande quantidade de objetos (em torno de quatorze). A dimensão dos objetos tanto de uma exposição quanto da outra é de grande volume.

No Museu da Republica, os objetos em exposição possuem menor volume e puderam ser organizados em vitrines.

Os demais dados da exposição e do edifício já foram expostos no item anterior, no entanto, a localização tanto de um museu quanto do outro, são apropriadas, pela relação entre a porcentagem de objetos expostos e as demais áreas livres das salas. Os percursos foram mostrados também no item anterior, através de setas indicativas nas plantas esquemáticas.

A organização da exposição, em seus diversos níveis, então, passa a ser o nosso foco principal de análise. A partir daí, houve a necessidade de se determinar as diretrizes para a viabilização desta. A escolha dos temas tem base no texto de Josep Maria Montaner, ‘Museu contemporâneo: lugar e dircurso’, e estão listados a seguir, com uma pequena interpretação do resumo de cada item:

  • O Repertório Tipológico:
    Caixa de vidro ou salas interligadas?
    A liberdade da caixa de vidro dos modernistas
  • Compreensão e Visualização:
    Clareza na organização espacial
    A visão da totalidade do espaço
  • A Diversidade dos Discursos Museológicos:
    Museu monográfico X Centro Cultural
    Atitudes distintas
  • A Relação Forma / Discurso:
    Forma arquitetônica X Discurso interno
    Como integrá-los ou não
  • Espaço, Iluminação e Objeto:
    Iluminação natural ou artificial?
    A solução mista
    O uso das cores
    E a ventilação?
    A materialidade do fundo
    Pisos, tetos e paredes
    As cores
  • Os Suportes dos Objetos:
    A relaçãoe ntre a peça a ser exposto, o suporte e o espaço
  • Discurso: Sinalização e Comodidade:
    Projeto gráfico e textual
    Etiquetas e placas indicativas

Conclusão

Como conclusão deste trabalho, chegando ao fim da análise comparativa, passando por uma análise espacial dos edifícios, verificou-se que a comparação entre as exposições abrangeu tanto aspectos semelhantes, quanto opostos, sendo verificado o resultado no quadro conclusivo exposto a seguir.

Para concluir, gostaria de expressar a minha satisfação em realizar este trabalho.